domingo, 15 de abril de 2012

Conhecer a Terra a partir do espaço

             Recuados vão os tempos em que a localização e o conhecimento geográfico dependiam de instrumentos como o quadrante (instrumento de medição usado pelos portugueses durante os Descobrimentos, por exemplo), da bússola (pensa-se que foi Mestre Jaime, judeu converso, que em 1420 chegou a Portugal a convite do Infante Dom Henrique, quem ensinou os portugueses a trabalhar com a bússola), do astrolábio (a sua versão mais moderna foi desenvolvida por Abraão Zacuto, em Lisboa, a partir de versões árabes mais antigas e menos precisas, tendo já sido aplicada na descoberta do caminho marítimo para a Índia e do Brasil), entre outros.
Entre o período dos descobrimentos portugueses e o século XXI, muitas e profundas transformações ocorreram nos processos e meios de observação e estudo da Terra e dos corpos celestes, invenções e descobertas que enriqueceram o conhecimento e a compreensão do nosso planeta e do cosmos.
O século XX é, por natureza, o século das tecnologias de localização, informação e de comunicação, avanços que colocou ao dispor das diferentes áreas da ciência um dos instrumentos mais eficazes de investigação e análise da superfície da Terra: os satélites artificiais.
Encontram-se atualmente em órbita vários tipos de satélites, entre os quais, os satélites do Sistema de Posicionamento Global (GPS), de comunicação (utilizados nas telecomunicações), de observação da Terra, meteorológicos e os militares.
O satélite meteorológico tem como principal função monitorizar o estado do tempo e o clima da Terra; secundariamente pode controlar e captar os efeitos da atividade humana, como a distribuição das luzes no espaço geográfico, as queimadas, os níveis de poluição atmosférica, as auroras polares, as correntes oceânicas, entre outros elementos. Considerando que estamos a atravessar uma época de alterações dos padrões climáticos, este tipo de satélite assume um papel vital na previsão do estado de tempo, da variação do clima e de catástrofes naturais com origem na atmosfera.
O Envisat, satélite europeu lançado a 1 de Março de 2002, na Guiana Francesa, e que orbitava a uma altitude de 800km, representa o maior satélite de observação da Terra construído até à data. A Agência Espacial Europeia (ESA) perdeu contacto com o satélite a 8 de Abril deste ano, depois de ter recebido imagens da Península Ibérica e das ilhas Canárias - as últimas enviadas por este satélite.
O Envisat processava uma análise global e rigorosa da atmosfera, continentes, oceanos e calotes polares/glaciares do planeta. Conseguia, entre outras ações, realizar medições relativas ao solo (caso da densidade da cobertura vegetal), analisar a dinâmica dos solos (deslizamentos de terra…) e da atividade vulcânica, monitorizar o movimento dos glaciares, cartografar a topografia dos oceanos e medir a altura das ondas, controlar a composição química e a dinâmica da atmosfera: medir a velocidade do vento, do vapor de água existente na atmosfera e da água presente nas nuvens, avaliar a composição global de gases na troposfera e na estratosfera, como por exemplo os níveis de Ozono e CFC`s da estratosfera.
Os dados recolhidos eram utilizados para o estudo científico da Terra, análise ambiental e alterações climáticas. A informação enviada pelo Envisat foi utilizada por 70 países, em mais de 4000 projetos.
A cartografia – “conjunto dos estudos e operações científicas, técnicas e artísticas que intervêm na elaboração dos mapas a partir dos resultados das observações diretas ou da exploração da documentação, bem como da sua utilização”, de acordo com a definição adotada pela ACI (Associação Cartográfica Internacional) – conheceu uma verdadeira revolução com o aparecimento dos satélites artificiais e o seu uso como instrumento de estudo e de investigação. Os mapas tradicionais dão lugar aos mapas digitais, que representam com elevado grau de pormenor e precisão os elementos e a dinâmica da superfície terrestre, permitindo-nos ter uma percepção real do mundo em que vivemos e que partilhamos.


            Ver:  Europa vista do espaço à noite

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