Em
Portugal, até ao aparecimento dos navios de arrasto (navios-arrastões), na
década de 40, do século XX, a pesca do bacalhau era praticada à linha, em
navios à vela (lugres). As embarcações levavam cerca de 40 a 60 Dóris (barcos pequenos de madeira, onde
cabia um só homem), que se empilhavam uns aos outros no convés. Pela manhã, muito
cedo, o Capitão mandava lançar os dóris
ao mar, já com o homem dentro. No barco, no meio do mar e longe do navio, o
pescador, sozinho, em pé e indefeso perante as condições climatéricas,
trabalhava durante 15, 20 ou até 30 horas. O trabalho não permitia o uso de luvas,
pelo que os pescadores usavam umas tiras de couro para proteger as palmas da
mão.
Regressavam quando o capitão mandava tocar o sino, toque que os ajudava a
orientar até ao navio. Alguns dóris estavam tão longe que demoravam horas a chegar ao navio. O
pescador só saía do dóri depois de
ter descarregado todo o peixe. Depois de concluir os preparativos para a
próxima pescaria o pescador ia direto
para a banca do trote ajudar. Caso a sua ajuda não fosse aqui necessária ia
para os porões ajudar na salga do bacalhau.
Cada
homem tinha duas linhas, com um anzol, e usava como isca o clam, molusco importado dos Estados Unidos e pequenas lulas. No entanto, o isco preferido era a lula, pelo que
os pescadores tinham sempre a bordo uma linha para a pesca da lula apetrechada
com isco dia e noite. A importância da lula era tal que chegavam a acordar toda
a gente aquando da passagem de um cardume e o primeiro a pescar uma lula
recebia o mesmo prémio que o primeiro pescador a chegar a bordo com um dóri carregado de bacalhau: uma garrafa
de aguardente.
Após a pescaria, o bacalhau era atirado
para dentro de umas caixas com a ajuda de forquilhas, que se chamavam garfos.
Na banca do trote, era degolado e
aberto com uma faca de dois gumes para lhe retirarem as vísceras. Cabia ao
escalador dar a forma ao bacalhau que nos habituamos a ver, triangular e plano,
usando uma faca de um só gume, atirando-o depois para a selha de lavagem. Após
ser escalado e lavado, o bacalhau ia para o porão para ser salgado.
Em
compartimentos de madeira, com a escotilha quase sempre semiaberta para
proteger o bacalhau do ar marítimo, com pouca luz e um permanente mau cheiro,
os salgadores, de gatas, vão colocando sal sobre o bacalhau à medida que o vão
empilhando. Diariamente tinham que mudar o bacalhau de um compartimento para
outro, verificando o grau de salga e a frescura do peixe. Por dia gastavam-se
várias toneladas de sal.
Todas as tarefas decorriam entre as quatro
horas da manhã e a meia-noite, sem feriados ou fins-de-semana. A dureza do
trabalho (o frio, o sal, as linhas…) refletia-se sobretudo nas mãos, que
inchavam e cobriam-se de frieiras, que com o passar do tempo rebentavam,
transformando-se em chagas. Em
média, cada campanha durava seis meses, entre Abril e Outubro.
Em 1957, dois investigadores alemães subiram a bordo do
navio “Adélia Maria” para registarem fotograficamente aspetos da pesca à linha
nos barcos dóris, a vida a bordo e ainda o processamento do bacalhau. Nesta
altura já era um tipo de pesca único no mundo, praticado somente pelos
portugueses.
A pesca do bacalhau à linha terminaria definitivamente em 1974,
três anos depois do último lugre ter partido pela última vez para os bancos de
pesca.

http://marintimidades.blogspot.com/
ResponderEliminar-> Um blog de uma senhora que já foi a directora do museu marítimo de Ílhavo e que é apaixonada pelo mar e ria e suas embarcações tradicionais.
esta muito fixe e a senhora tambem
ResponderEliminarGostei do blog assim se precisar de fazer algum trabalho de geografia já sei onde ir.
ResponderEliminar:) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :) :)
o blog está muito interessante os textos muito bem constituidos e dou os parabéns a quem o fez :)
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