Dadaab,
localizado no nordeste do Quénia, cerca de 100km da fronteira entre o Quénia e
a Somália, é conhecido por representar o maior complexo de campos de refugiados
do mundo: Hagadera, Ifo e Dagahaley.
Encontrando-se
sob a proteção e administração do Alto Comissariado das Nações Unidas para os
Refugiados (ACNUR), a Dadaab chegam refugiados provenientes de várias regiões
da África Oriental, populações que fogem dos conflitos militares e das prolongadas
secas que têm atingido a região. A maioria dos refugiados (aproximadamente 97%)
pertence à população somali que, devido à violência provocada pelas guerras
civis no sul do país, procuram aqui refúgio e ajuda.
Criado
inicialmente como um acampamento temporário para abrigar refugiados que fugiam da
guerra civil que atingiu a Somália após a queda do ditador Mohamed Siad Barre, o
complexo completou 20 anos de existência em 2011. Estendendo-se por uma área de
50km² e projectado para abrigar uma população de 90 000 refugiados, 30 mil em
cada campo, atualmente acolhe mais de 463 mil refugiados, incluindo as 10 000
pessoas que constituem a terceira geração nascida em Dadaab. Em 2011, perante
as terríveis condições de fome provocadas por uma das mais graves secas dos
últimos anos, o número de refugiados somalis que chegavam ao complexo
ultrapassava, em média, os 1000 por dia. Em Junho desse ano chegaram 30 000, em
Julho 40 000 e em Agosto 38 000, número que elucida a triste e difícil
realidade em que continua a viver o povo desta região, conhecida por “Corno ou
Chifre da África".
Chegar
à entrada do complexo é uma vitória: os refugiados que aqui chegam conseguiram
sobreviver aos conflitos e perseguições na sua terra natal, a dias de caminhada
sob um sol abrasador, resistiram à fome e à sede. Os recém-chegados são primeiramente
identificados e registados na tenda do ACNUR, depois são submetidos a um exame
médico no espaço da organização Médicos Sem Fronteiras (as crianças são
vacinadas, pesadas e medidas, e de acordo com o grau de subnutrição podem ser imediatamente
internadas; se o caso não for grave, a família recebe orientação para ser
acompanhada num posto médico de um dos campos). Concluídos estes procedimentos,
é distribuída uma cesta com bens básicos para 21 dias. Por cada membro do
agregado familiar é entregue 4,4kg de farinha, 4,4kg de farinha de milho, 1,2kg
de feijão, 600g de óleo, 100g de sal, 420g de açúcar e 945g de uma mistura
fortificada de milho e soja. Há também pontos de distribuição de água, mas, segundo
a organização dos Médicos Sem Fronteiras, as quantidades disponíveis não são
suficientes: se o consumo de água recomendável é de 20 litros por pessoa, em
Dadaab este valor fica entre os 3 a 4 litros. De acordo com os dados
disponíveis, em 2011 80% das grávidas estavam anémicas, 6,3% a 9,4% das
crianças até aos 5 anos estavam subnutridas e havia unicamente 1 latrina para 25 a
30 pessoas.
Outra
grande dificuldade dentro dos campos é encontrar um teto, já que desde de 2008,
data em que o complexo foi declarado lotado, não há distribuição oficial de
barracas; cada um procura construir um abrigo com o que encontra, desde
gravetos, a panos e plásticos.
Nos
três campos há escolas, mas o seu número (38, segundo os dados de 2011) e as
vagas existentes não são suficientes para todos poderem completar o 1º ciclo.
Embora representem casos raros, alguns jovens conseguem bolsas e autorização
para estudar em Nairobi ou na cidade de um outro país. Como os refugiados não
são reconhecidos como cidadãos, qualquer tipo de trabalho é-lhes vedado, pelo
que o diploma não se traduz em melhores oportunidades de vida e mesmo que
pudessem, não existem no campo cargos compatíveis com as habilitações
literárias obtidas. Mesmo assim, o sonho de muitos jovens passa por completar
os estudos universitários.
Embora
não possam trabalhar, ao longo dos 20 anos de existência foi-se desenvolvendo
no campo uma economia baseada no comércio. Nos mercados encontram-se produtos
básicos, como os alimentares e roupa, até perfumes, brinquedos e cinema.
A segurança em Dadaab
é assegurada pela polícia queniana. A segurança das sedes e escritórios da ONU
e das ONGs é assegurada por uma empresa particular contratada pela ONU. Os
membros das agências humanitárias têm toque de recolher, não sendo recomendável
sair depois das 18h e antes das 7h. Para prevenir situações de rapto, os
jornalistas são transportados em comboio policial ou em escolta armada.
A viver em condições de vida precárias,
cidadãos de um lugar do qual tiveram que fugir e sem direito à cidadania do
país que os acolheu, os refugiados de Dadaab, assim como todos aqueles que
vivem em tantos outros campos de refugiados, têm a sua vida em suspenso.
Segundo os dados do ACNUR, mais
de 968 mil somalis vivem como refugiados em países vizinhos, principalmente no
Quénia (520 mil), Iémen (203 mil) e Etiópia (186 mil). Um terço fugiu da
Somália em 2011. Outros 1.3 milhões estão deslocados dentro do país.