Celta é o termo usado para designar o
conjunto de povos de raiz indo-europeia que migraram para o oeste da Europa a
partir do segundo milénio a.C.
Os celtas não constituíam um povo uno, com
uma estrutura política e social coesa, estando organizados em múltiplas tribos,
cada uma estabelecida numa área geográfica específica: bretões, gauleses,
helvécios, belgas… Pode-se dizer que a arte, a língua e a religião eram os
elementos unificadores entre os vários povos celtas.
Segundo as fontes, a dispersão dos povos
celtas pela Europa realizou-se ao longo de duas grandes etapas, designadas
culturas Hallstatt e La Tène.
O período Hallstatt,
que se prolonga entre 1200 a.C. e 500 a.C, corresponde ao final da Idade do
Bronze e à primeira Idade do Ferro (cerca de 750-450 a.C.); pode-se considerar
que foi uma fase de transição entre a idade do bronze e a do ferro. O nome
atribuído a este período deve-se à necrópole arqueológica localizada nas
margens do lago Hallstatt, na Áustria, na qual foram encontrados mais de 2000
túmulos e mais de 6000 objetos. A zona
geográfica ocidental da cultura Hallstatt incluía os atuais territórios do
norte da Itália, Suíça, França oriental, Alemanha meridional e Boémia (atual
República Checa). Áustria e Eslováquia são territórios que compreendiam a zona
geográfica oriental. Neste período foram produzidas obras
de arte como joalheria feita em bronze e ouro e estelas de pedra; nas fases finais começaram a surgir as
primeiras espadas de ferro. Acredita-se que os celtas foram os pioneiros no
trabalho e uso do ferro na Europa
À cultura
Hallstatt sucede, na maior parte da Europa Central, a cultura La Tène. Esta
cultura desenvolveu-se e propagou-se durante a segunda Idade do Ferro (de 450
a.C. à conquista romana, no século I a.C.) nos atuais territórios da França
oriental, Suíça, Áustria, sudoeste da Alemanha, República Checa e Hungria. O
seu nome deriva do nome da aldeia localizada no lago Neuchâtel, na
Suíça, onde foi descoberto o sítio
arqueológico.
Segundo alguns
historiadores, os celtiberos (povo que habitava na península Ibérica desde o
século VI a.C.) resultam da fusão do povo celta com o ibero (povo autóctone).
Outras opiniões defendem que os celtiberos eram um povo celta que assimilou e
adaptou traços da cultura ibera.
A partir do século
II a.C. os celtas começaram a perder território com as incursões dos povos
germânicos e com as invasões e conquistas dos romanos. Em 192 a.C. os romanos
ocupam a Gália Cisalpina (norte da península Itálica); em 52 a.C. Júlio César,
ao vencer a batalha de Alésia, conquista a Gália, tornando-a uma província
romana; no século I d.C. a Bretanha (atual Grã-Bretanha) é dominada pelo
imperador Cláudio. De toda a área celta, somente a Irlanda e o norte da
Bretanha permanecem territórios de identidade celta. A conquista romana da
península Ibérica durou aproximadamente 200 anos: em 133 a.C. os celtiberos são
derrotados com a queda da Numância.
Os investigadores
consideram que os povos celtas teriam uma língua comum até ao início do primeiro
milénio a.C., época a partir da qual a língua terá divergido para dois
dialectos celtas distintos, conhecidos atualmente por gaélico e britónico ou
Celta-Q e Celta-P. O grupo gaélico é representado hoje pelo irlandês, manx ou
manês e gaélico escocês; o grupo britónico pelo galês, córnico e bretão. No
britónico, que constitui uma mutação do gaélico, segundo opinião de alguns
historiadores, a letra Q foi substituída pelo P. Por exemplo, em gaélico, a
palavra para filho é mac; nas línguas que representam o britónico a palavra
assumiu as formas de map (galês e córnico) e mab (bretão).
Os celtas adoravam um grande número de deuses
e professavam um grande respeito pela natureza. Acreditavam que algumas árvores
possuíam virtudes específicas: o espinheiro-alvar protegia tanto os animais
como os humanos do raio; o visco curava os animais; a hera era um amuleto; o
azevinho conduzia à imortalidade e o teixo era a árvore sagrada por natureza. A
presença do teixo na base dos menires anteriores à cultura La Tène leva os
historiadores a crer que tinha a função de zelar pelos mortos e que era tido como
um símbolo da ressurreição.
Do panteão celta podem-se destacar as
divindades Dagda, Deus supremo do panteão, pai dos deuses e dos homens, Deus
dos magos e sacerdotes, senhor dos artesãos, da música e das curas, Deus da
magia e da terra; Belenus, também conhecido por Belenos, o Deus do Sol; Lug ou
Lugh, também considerado Deus do Sol e da guerra na Irlanda e no País de Gales;
Brigit ou Brigid, filha do Dagda, era a Deusa do fogo, da fertilidade, da agricultura,
da poesia…; Cernunnos, Deus da Natureza, Senhor do Mundo.
No mundo celta o panteão não era homogéneo,
variando entre os povos e as tribos as divindades veneradas e os nomes a elas atribuídos.
Os deuses não viviam em comunidade como a do tipo do Olimpo Grego: partilhavam
grutas, dólmens, túmulos, nascentes, o interior das montanhas. O seu culto era
praticado ao ar livre, em clareiras.
Do calendário celta faziam parte quatro
importantes festividades religiosas: Samain, celebrado no dia 1 de Novembro;
Imbolc, no 1º de Fevereiro; Beltaine, no 1º dia de Maio; Lugnasad, no dia 1 de
Agosto.
A festa de Samain marcava o começo do novo
ano céltico; os celtas acreditavam que durante a noite de Samain o Sidh (locais onde habitavam os deuses),
as ilhas e os túmulos eram abertos, permitindo o contacto entre o nosso mundo e
o dos mortos. O Imbolc, dedicado à Deusa Brigid, marcava o
renascimento da vida da natureza depois do seu período de hibernação (inverno). Beltaine era uma festa dedicada a Belenus e
marcava o início do verão e a “morte” do inverno. Era um festival de
fertilidade, simbolizando a união entre as energias masculina e a feminina.
Lugnasad, comemorado sob a protecção do Deus Lug, celebrava a chegada das
colheitas.
Em todos os povos celtas os druidas desempenhavam
um papel primordial na sociedade; eram os líderes religiosos, constituindo uma
classe privilegiada dentro da sociedade. Para além de presidirem às
cerimónias religiosas, desempenhavam as funções de educadores e de juízes.
Tinham conhecimentos de medicina, agricultura e astronomia. Ainda eram
responsáveis pela conservação da tradição celta, toda ela oral, já que os
celtas não utilizavam a escrita. Segundo relatos, todos os anos, numa data
fixa e num local sagrado, realizava-se uma grande assembleia de druidas da Gália.
Diferentes descobertas arqueológicas levam a supor que esse local situava-se
perto de Saint-Benoît-sur-Loire. As mulheres também integravam a classe
druídica, sendo a sua maioria profetizas.
Os druidas representavam a força e a coesão
política, cultural e religiosa entre os povos celtas, pelos que os romanos,
segundo os testemunhos disponíveis, procuraram eliminar o druidismo. Mesmo
assim, ele perdurou até à Idade Média na Irlanda e até ao século V na Gália.
Com a ocupação dos territórios celtas pelos
romanos e pelos povos germânicos (caso da Grã-Bretanha pelos anglo-saxões) a
cultura e identidade celta foi-se diluindo. No entanto, em territórios como a
Irlanda, Escócia e Bretanha (região no norte da França para onde migraram os
bretões fugidos das invasões anglo-saxões que assolaram a Grã-Bretanha a partir
do século V d.C.), a influência cultural celta jamais desapareceu. Pode-se
mesmo afirmar que está a passar por um ciclo de renascimento e expansão com o
aparecimento de música de inspiração celta e no reviver de muitos usos e costumes.