terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

A pesca do bacalhau à linha em Portugal

             Em Portugal, até ao aparecimento dos navios de arrasto (navios-arrastões), na década de 40, do século XX, a pesca do bacalhau era praticada à linha, em navios à vela (lugres). As embarcações levavam cerca de 40 a 60 Dóris (barcos pequenos de madeira, onde cabia um só homem), que se empilhavam uns aos outros no convés. Pela manhã, muito cedo, o Capitão mandava lançar os dóris ao mar, já com o homem dentro. No barco, no meio do mar e longe do navio, o pescador, sozinho, em pé e indefeso perante as condições climatéricas, trabalhava durante 15, 20 ou até 30 horas. O trabalho não permitia o uso de luvas, pelo que os pescadores usavam umas tiras de couro para proteger as palmas da mão. Regressavam quando o capitão mandava tocar o sino, toque que os ajudava a orientar até ao navio. Alguns dóris estavam tão longe que demoravam horas a chegar ao navio. O pescador só saía do dóri depois de ter descarregado todo o peixe. Depois de concluir os preparativos para a próxima pescaria o pescador  ia direto para a banca do trote ajudar. Caso a sua ajuda não fosse aqui necessária ia para os porões ajudar na salga do bacalhau.
Cada homem tinha duas linhas, com um anzol, e usava como isca clam, molusco importado dos Estados Unidos e pequenas lulas. No entanto, o isco preferido era a lula, pelo que os pescadores tinham sempre a bordo uma linha para a pesca da lula apetrechada com isco dia e noite. A importância da lula era tal que chegavam a acordar toda a gente aquando da passagem de um cardume e o primeiro a pescar uma lula recebia o mesmo prémio que o primeiro pescador a chegar a bordo com um dóri carregado de bacalhau: uma garrafa de aguardente.
Após a pescaria, o bacalhau era atirado para dentro de umas caixas com a ajuda de forquilhas, que se chamavam garfos. Na banca do trote, era degolado e aberto com uma faca de dois gumes para lhe retirarem as vísceras. Cabia ao escalador dar a forma ao bacalhau que nos habituamos a ver, triangular e plano, usando uma faca de um só gume, atirando-o depois para a selha de lavagem. Após ser escalado e lavado, o bacalhau ia para o porão para ser salgado.
 Em compartimentos de madeira, com a escotilha quase sempre semiaberta para proteger o bacalhau do ar marítimo, com pouca luz e um permanente mau cheiro, os salgadores, de gatas, vão colocando sal sobre o bacalhau à medida que o vão empilhando. Diariamente tinham que mudar o bacalhau de um compartimento para outro, verificando o grau de salga e a frescura do peixe. Por dia gastavam-se várias toneladas de sal.
Todas as tarefas decorriam entre as quatro horas da manhã e a meia-noite, sem feriados ou fins-de-semana. A dureza do trabalho (o frio, o sal, as linhas…) refletia-se sobretudo nas mãos, que inchavam e cobriam-se de frieiras, que com o passar do tempo rebentavam, transformando-se em chagas. Em média, cada campanha durava seis meses, entre Abril e Outubro.
Em 1957, dois investigadores alemães subiram a bordo do navio “Adélia Maria” para registarem fotograficamente aspetos da pesca à linha nos barcos dóris, a vida a bordo e ainda o processamento do bacalhau. Nesta altura já era um tipo de pesca único no mundo, praticado somente pelos portugueses.
A pesca do bacalhau à linha terminaria definitivamente em 1974, três anos depois do último lugre ter partido pela última vez para os bancos de pesca.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012



Não é o sofrimento das crianças que se torna revoltante em si mesmo, mas sim que nada justifica tal sofrimento.
Albert Camus

  A UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância ), que se rege pela Convenção sobre os Direitos da Criança,  tem por objectivo promover a defesa dos direitos das crianças e ajudar  a  garantir as suas necessidades básicas, contribuindo para o seu pleno desenvolvimento. Procura ainda proteger as crianças que são vítimas de conflitos armados e de catástrofes naturais. 
 Atualmente trabalha em 191 países através de programas nacionais e de comités nacionais que atuam nos setores da saúde, educação, nutrição, água e saneamento básico.
O relatório Acção Humanitária da UNICEF para as Crianças 2012  realça que "No mundo, milhões de crianças vivem em situações de crise que duram anos. Embora algumas dessas emergências atraiam uma atenção significativa por parte dos media e dos políticos, outras nunca chegam a sensibilizar a comunidade internacional, e muitas tornam-se ‘emergências silenciosas’ cujas profundas necessidades humanitárias, por existirem longe dos olhares públicos, são descuradas demasiado facilmente e depressa demais."