Cada
homem tinha duas linhas, com um anzol, e usava como isca o clam, molusco importado dos Estados Unidos e pequenas lulas. No entanto, o isco preferido era a lula, pelo que
os pescadores tinham sempre a bordo uma linha para a pesca da lula apetrechada
com isco dia e noite. A importância da lula era tal que chegavam a acordar toda
a gente aquando da passagem de um cardume e o primeiro a pescar uma lula
recebia o mesmo prémio que o primeiro pescador a chegar a bordo com um dóri carregado de bacalhau: uma garrafa
de aguardente.
Após a pescaria, o bacalhau era atirado
para dentro de umas caixas com a ajuda de forquilhas, que se chamavam garfos.
Na banca do trote, era degolado e
aberto com uma faca de dois gumes para lhe retirarem as vísceras. Cabia ao
escalador dar a forma ao bacalhau que nos habituamos a ver, triangular e plano,
usando uma faca de um só gume, atirando-o depois para a selha de lavagem. Após
ser escalado e lavado, o bacalhau ia para o porão para ser salgado.
Em
compartimentos de madeira, com a escotilha quase sempre semiaberta para
proteger o bacalhau do ar marítimo, com pouca luz e um permanente mau cheiro,
os salgadores, de gatas, vão colocando sal sobre o bacalhau à medida que o vão
empilhando. Diariamente tinham que mudar o bacalhau de um compartimento para
outro, verificando o grau de salga e a frescura do peixe. Por dia gastavam-se
várias toneladas de sal.
Todas as tarefas decorriam entre as quatro
horas da manhã e a meia-noite, sem feriados ou fins-de-semana. A dureza do
trabalho (o frio, o sal, as linhas…) refletia-se sobretudo nas mãos, que
inchavam e cobriam-se de frieiras, que com o passar do tempo rebentavam,
transformando-se em chagas. Em
média, cada campanha durava seis meses, entre Abril e Outubro.
Em 1957, dois investigadores alemães subiram a bordo do
navio “Adélia Maria” para registarem fotograficamente aspetos da pesca à linha
nos barcos dóris, a vida a bordo e ainda o processamento do bacalhau. Nesta
altura já era um tipo de pesca único no mundo, praticado somente pelos
portugueses.
A pesca do bacalhau à linha terminaria definitivamente em 1974,
três anos depois do último lugre ter partido pela última vez para os bancos de
pesca.