Conhecida como a Cidade dos 333 Santos, Tombuctu
constituiu entre os séculos XIV e XVI, sob as dinastias Mandinga e Askia, um
importante centro comercial, cultural e espiritual e um foco de difusão da
religião muçulmana em África. A esta antiga encruzilhada de grandes caravanas e
pólo de aprendizagem chegavam, vindos de diferentes regiões de África,
engenheiros, arquitectos e estudiosos do alcorão…Tombuctu atraía viajantes de
países longínquos. Os escribas copiaram milhares de obras de teologia,
literatura, ciência, geografia e história, obras que chegavam à cidade através
dos comerciantes nómadas. Foram também elaboradas obras originais de música e
de poesia, muitas ilustradas com iluminuras de ouro.
A Unesco estima que já foram inventariadas
cerca de 15 mil obras e que 80 mil ainda estarão dispersas por vários
locais da cidade.
Classificadas pela Unesco, as mesquitas de Djingareyber e de Sidi Yahia
e a universidade de Sankoré, reconstruídas durante o reinado do Íman Al-Aqib,
da dinastia Askia (1493-1591), são testemunhos desta
época áurea.
Nos inícios do século XIV, sob a égide Sultão
Kankan Moussa (1312-1335/37), da dinastia Mandinga, foram fundadas a mesquita
de Djingareyber e a universidade de Sankore. A mesquita foi construída por
arquitectos trazidos da Andaluzia e do Cairo pelo Sultão, depois de ter
regressado da sua peregrinação a Meca, em 1325.
Com a construção da mesquita de Djingareyber
e da universidade, Tombuctu converteu-se num importante pólo de comércio,
conhecimento e de cultura. A universidade acolhia astrónomos, matemáticos e
juristas, atraindo estudiosos muçulmanos de toda a África e do Médio Oriente.
Entre 1570 e 1583 a mesquita sofreu várias
intervenções que a engrandeceram: o minarete construído na época ainda continua
a dominar a paisagem urbana actual. Como a mesquita Djingareyber, a universidade
também foi restaurada pelo Íman Al-Aqib, entre 1578 e 1582. A mesquita de Sidi
Yahia, construída possivelmente por volta de 1400, foi restaurada entre 1557 e
1578.
Supõe-se que no período da dinastia Askia
cerca de 25 000 alunos frequentavam os vários centros de estudos do alcorão,
entre os quais a universidade corânica de Sankore.
O esplendor de Tombuctu começou a
desvanecer-se a partir do século XVI, apagando-se totalmente com o passar do
tempo. Apesar de esquecido, os monumentos que continuam a despertar os nossos
olhares para este ponto do Mali, e que outrora simbolizaram um saber
intercultural e religioso, transformaram-se, por essa mesma razão, em mais um
cenário de destruição e violência provocado por um extremismo religioso.
Depois do golpe de Estado de 22 de Março,
aproximadamente dois terços do Mali ficaram sob o controlo do grupo Ansar Dine,
combatentes rebeldes salafistas que preconizam a eliminação de todos os locais
considerados sagrados, incluindo os mausoléus e os lugares com símbolos
artísticos.
Este grupo rebelde defende que a veneração
dos santos, sendo uma idolatria, não pode ser apoiada, tendo que se avançar
para a destruição dos elementos que mantêm vivo o culto dos santos. Os
combatentes prometem arrasar os túmulos dos santos de tradição sufista.
Desde o início dos tumultos já foram arrasados
nove dos dezasseis mausoléus, alguns dos quais na mesquita Djingareyber, e a
porta da mesquita Sidi Yahia arrombada. Numa declaração proferida a 18 de
Junho, os responsáveis pelas bibliotecas comunicaram que a presença de grupos
armados coloca em perigo o acervo de manuscritos.
No dia 28 de Junho, a Unesco, a pedido do
Governo do Mali, colocou Tombuctu na lista do Património Mundial sob ameaça.
A comunidade internacional assiste, mais uma
vez impotente, à devastação de um património que retrata, num continente em que
as notícias e as lembranças mais frequentes estão relacionadas com golpes de
estado, conflitos militares, catástrofes naturais e crises humanitárias, um
tempo, uma época, uma sociedade onde se privilegiava o saber, a tolerância como
impulsionadora do conhecimento cultural, científico e religioso - o que de
melhor a humanidade pode e deve criar.
O Mali é atualmente um país de grandes
músicos, não sendo por isso de estranhar que muitos integram a chamada World
Music. Um dos génios musicais, já falecido, é Ali Farka Toure, considerado o
“Rei dos Blues do Deserto”.